sábado, 22 de novembro de 2008
Entre o público e o privado
À frente da Escola de Formação desde 1994, quando foi iniciado, pela primeira vez, o curso na Universidade Estadual do Ceará (UECE), Alberto Teixeira diz que "a responsabilidade com o setor público ainda é muito pequena" e sugere como soluções para a deficiência da máquina estatal uma reeducação do povo, ao se estimular a democracia participativa, o respeito aos direitos humanos, além de ações eficazes que garantam o desenvolvimento nacional.
Alberto ainda cita como causa da má gerência pública por parte dos governantes a confusão entre público e privado. E, talvez, está aí a falta de diligência com o que é coletivo. A preocupação é de favorecer os grandes interesses políticos e econônimicos, e não os sociais. "Temos de lutar para que a expansão do público seja efetivada", defende.
Sobre a missão da Escola de Formação, o jornalista é enfático. Ele afirma que ela não ocupa o espaço da universidade, já que não é ensina administração pública. "Não é uma escola do governo, mas de governo". E antes de concluir a conversa com nossa turma, Alberto deixou um recado para os representantes do poder: "O governante deve estar apto a compreender os elementos fundamentais de qualquer área do governo, competindo-lhe a responsabilidade de decidir e definir prioridades, o que pressupõe a capacidade de julgar as questões no contexto da validade global em que se inserem".
Edgel Joseph
Cultura Livre
Por Gabriela Meneses
Na nossa Agenda Social do dia 6 de novembro de 2008, tivemos um papo descontraído com Philipe Ribeiro e Uira Porã Maia sobre Cultura Livre. Philipe tem formação na área ambiental e participação em movimentos sociais. Já Uiraporã presta serviços ao Ministério da Cultura, no projeto Pontos de Cultura, responsável por articular e impulsionar as ações que já existem nas comunidades, através dea distribuição de equipamentos multimídias. Os dois defendem o acesso irrestrito ao conhecimento, através do movimento Cultura Livre.
Atualmente, segundo Philipe Ribeiro, a cultura livre vem ganhando espaço nos movimentos sociais. Ele explica que, por conta da falta de representatividade dos movimentos na “mídia gorda”, eles começaram a desenvolver maneiras próprias de comunicação. São jornais comunitários, rádios comunitárias, tv’s comunitárias e muitos outros tipos de mídia que compartilham a informação com o público alvo do movimento, sem precisar passar pelo crivo da grande mídia.
Para os adeptos dessa causa, a comunicação e a cultura são direitos de todo ser humano e não deve haver restrições na sua difusão. No entanto, a realidade não é essa. As rádios comunitárias, por exemplo, são consideradas piratas, fora da lei, sendo, por vezes, impedidas de funcionar, mesmo que estejam contribuindo para a formação de cidadãos de uma comunidade que não tem acesso devido à educação de qualidade.
Apesar da represália, o movimento da cultura livre atinge também outras áreas do conhecimento, como é o caso da informática. Uira Porã contou que, ainda na década de 80, um programador nos Estados Unidos criou softwares livres. Dessa forma, os programas de computador, antes monopolizados por empresas, puderam ser distribuídos gratuitamente. A idéia era fazer com que os programadores pudessem trocar experiências e adquirir conhecimento uns com os outros, produzindo, assim, a chamada “inteligência coletiva”.
Philipe e Uira Porã apresentaram ainda os trabalhos do cartunista Carlos Latuff, conhecido internacionalmente pelos desenhos criativos e por disponibilizar suas obras gratuitamente. Segundo Lattuf, ele não é o dono da obra, é apenas o autor. O cartunista é declaradamente adepto do movimento cultura livre. Para ele, a questão é inovar a forma de difundir o que se produz, sem controlar a informação.
Assim cresce o movimento Cultura Livre, seja na comunicação, na informática, na cultura. São desafios, planos, sonhos, desejo de compartilhar, de crescer junto. Tudo isso na busca de um mundo melhor, mais justo, mais humano.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Educação para a transparência
Foi justamente pela EFG que ele começou seu discurso, uma Escola, e ele fez questão de frisar que não se trata de mais uma Faculdade, mas de uma Escola mesmo, cujo objetivo seria formar governantes para o País. Uma escola que escolhe seus “alunos” não pelo currículo escolar, mas pela atividade social e política que exerce ou deseja exercer. Ainda segundo o professor, essa estratégia é uma maneira de incluir pessoas que de outro modo não teriam acesso a uma formação e colocá-las em contato com outras, que se julgam já formadas em algum campo educacional.
A justificativa para a manutenção da escola é o Analfabetismo político dos governantes brasileiros que, na opinião do Professor, é o responsável por boa parte dos problemas sociais no Brasil.
Um desses problemas é a percepção do coletivo. Existe uma confusão entre o público com o estatal, tanto os governantes quanto a população de modo geral compreende a coisa pública como sendo uma coisa do governo quando, na verdade, é de todos. Outro problema do setor público é a partilha, onde todos deveriam pensar no objetivo coletivo, cada um pensa, e age, de acordo com interesses individuais.
Teixeira acredita que a solução está na capacitação técnica-política das pessoas, na formação ética, sempre procurando a generalização em vez da especialização, desenvolvendo a visão sistêmica, a educação integral do povo, a democracia participativa.
Para o professor, essa percepção deturpada do interesse coletivo é a causadora também do problema da transparência, ou da ausência de transparência, melhor dizendo, que atinge não só o setor público, mas também as ONGs. Estas últimas ainda estariam ainda menos distantes de resolver o problema do que o próprio setor público, uma vez que são menos estáveis.
É necessário conscientizar as pessoas envolvidas com os interesses coletivos que faz parte da sua obrigação a prestação de contas e a divulgação dos resultados ao conhecimento público. É necessário mudar a visão atual da sociedade, que se encabula em perguntar, e dos governantes, que se ofendem em ter que responder sobre a transparência administrativa dos recursos sociais e/ou coletivos.
Os governos não levam a transparência a sério, mas a sociedade também não.
Links úteis: http://www.efg.org.br/
Livre de quê?
Inclusive, como já tínhamos conversado na disciplina em outros momentos, esse comportamento parece ser perfeitamente explicável do ponto de vista de Lênin e sua teoria da curvatura da vara, que diz que “Se uma vara está torta ela fica curva de um lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. É preciso curvá-la para o lado oposto.” Lênin (Althusser, 1977: 136-38).
Ao longo da conversa algumas impressões foram desconstruídas e outras reconstruídas, mas eu diria que a maior contribuição que os dois rapazes deram foi despertar uma inquietação pessoal sobre o que é essa cultura livre de que tanto falam. O que parece não ser tão fácil definir, de acordo com a conversa e com pesquisas posteriores.
Ao escutar termos como “mídia gorda”, ao assistir ao depoimento de Carlos Latuff e Tiago Jucá e o engraçado desenho animado sobre a casa do Bill Gates identifico as mesmas características identificáveis no discurso da maioria das pessoas envolvidas em movimentos sociais: uma certeza de que estão do lado certo enquanto os não envolvidos estão do lado errado ou, no mínimo, estão indiferentes às questões sociais.
Talvez seja verdade, talvez não. Essa dúvida me ocorre porque vejo o discurso sobre cultura livre ainda indefinido. Enquanto alguns definem a cultura livre como uma cultura onde não se deveria seguir as regras, outros definem justamente como o contrário.
No livro Cultura Livre - como a mídia usa a tecnologia e a lei para barrar a criação cultural e controlar a criatividade , Lawrence Lessig define: “Uma cultura livre não é uma cultura sem propriedade, da mesma forma que um mercado livre não é um mercado aonde tudo é liberado. O oposto de uma cultura livre é uma “cultura da permissão” — uma cultura na qual os criadores podem criar apenas com a permissão dos poderosos ou dos criadores do passado. (...) Uma cultura livre não é uma cultura sem propriedades; não é uma cultura aonde os artistas não são pagos. Uma cultura sem propriedades, aonde os artistas não são pagos, é uma anarquia, não liberdade.” (p.16-17)
O discurso de Lessig vai ao encontro do que os dois palestrantes falaram sobre essa confusão entre ser livre e ser grátis. Provavelmente os rapazes tenham uma visão mais acadêmica do termo pela sua proximidade com o campo ou pelo seu contato árduo com a internet, software livre etc. Mas ficou o questionamento: será que todos os envolvidos com a cultura livre no sentido Geral, em todos os níveis têm essa mesma visão?
Segundo os palestrantes, algumas das características gerais da Cultura Livre seria o acesso irrestrito à informação e o direito irrestrito à produção dessa informação, mas será que a nossa sociedade está preparada para lidar com tanta liberdade? Me parece que nós ainda precisamos saber “quem disse” ou fez para dar crédito ou não ao que ouvimos ou vemos.
Mas ao escutar o discurso tão dialógico, sobre direitos autorais e right commons, autoria e propriedade, liberdade e gratuidade, inteligência coletiva, trabalho colaborativo, percebe-se que trata-se de um campo promissor e em franca expansão do ponto de vista social e, principalmente, sociológico.
O Livro Cultura Livre - como a mídia usa a tecnologia e a lei para barrar a criação cultural e controlar a criatividade, de Lawrence Lessig, está disponível em http://www.rau-tu.unicamp.br/nou-rau/softwarelivre/document/?view=144
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Líderes sociais
É inquestionável a importância de uma instituição que contribua para a sedimentação de uma nova cultura de administração pública. Contudo, a maior transformação de postura de nossos lideres deve vir de uma iniciativa firme e concisa da sociedade como um todo.
O que tenho observado no discurso da grande maioria dos visitantes desta disciplina é a importância dada à informação. A informação como a maior ferramenta de luta para a sociedade. E, talvez, essa educação diferenciada dada a lideranças pudesse ser mais bem aproveitada se proporcionada a grande maioria da população. Talvez, paralelamente, enquanto se ensina um futuro secretário de governo, possa se ensinar também a uma dona de casa uma disciplina explicando o que é corrupção, suas formas de prática e como combatê-la.
Livre acesso
A conversa com os visitantes começa com a apresentação de um vídeo de uma rádio livre, instalada embaixo de uma caixa d´água, na cidade de Campinas, em São Paulo. O vídeo apresenta a rádio e a forma com as pessoas que a fazem trabalham sua programação alternativa. E assim prossegue, entre rádios, tv´s, sites de internet, eles vão apresentando um mundo alternativo, voltado ao interesse público, livre de padrões editorias e comerciais. Mas então surge um questionamento. Como é possível ganhar dinheiro com um meio ou ferramenta de comunicação que não se comercializa nos moldes tradicionais?
Para explicar a todos, é mostrado o exemplo da informática, com seu mundo do software livre. Software livre é o programa de computador que tem licença livre, que no bom português significa gratuito. Ou seja, o programa é de livre acesso, sem qualquer ônus financeiro para quem quiser adquiri-lo. Todo o retorno monetário sobre o software se baseia em treinamentos, adaptações para empresas entre outros serviços. O que vale é o serviço, não o produto.
E assim foi apresentada uma alternativa, quase uma provocação. Informação e conhecimento livres, acessíveis a todos. Liberdade e informação passam a ser sinônimos.
Links interessantes:
http://www.broffice.org/
http://www.midiaindependente.org/
Cultura sem barreiras
Cultura livre é um movimento, criativo, para difusão de idéias, conhecimentos e cultura e para democratização da informação, através do acesso livre, eficiente e inclusivo. E a internet, por ser um espaço global, econômico e livre, acabou tornando-se um dos principais meios de propagação e difusão da cultura livre. Um exemplo interessante pode ser visto no site Cultura Livre (http://www.culturalivre.org.br), que desenvolve um projeto em parceria com o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas e o Link Centre da África do Sul.
O Cultura Livre tem por objetivos permitir a compreensão do impacto da Propriedade Intelectual para o desenvolvimento, para a mídia e para a cultura. A fim de articular a “sociedade civil nacional e internacional em defesa da emancipação cultural e do acesso a bens e produtos culturais, no intento de rearranjar o equilíbrio entre interesses do Poder Público, da inciativa privada e da Sociedade Civil, particularmente nos países em desenvolvimento”.
No jornalismo, a preocupação com a difusão da informação de forma ampla já pode ser percebida nas páginas online dos jornais, que disponibilizam suas edições impressas na integra e sem nenhum custo. O site Centro de Mídia Independente (http://www.midiaindependente.org) é exemplo de comunicação aberta e democrática. Nele, são postadas matérias escritas por colaboradores de todos os Estados brasileiros, que escrevem sobre temas marginalizados pela grande mídia, como os movimentos de cunho social.
Conte comigo, fique comigo
Esse comercial da APAE, para mim, é duplamente emocionante. Primeiro, ao ver como uma organização como essa faz um trabalho belíssimo por todo o Brasil. Segundo, por ter como fundo uma letra que representa realmente o espírito da associação.
Confira a tradução de "Stand By Me - John Lennon":
Quando a noite tiver chegado
E a terra estiver escura,
E a lua for a única luz que veremos,
Não, eu não terei medo
Não, eu não terei medo
Desde que você fique
Fique comigo
Refrão:
Então querida, querida,
Fique comigo
Oh, fique comigo,
Oh, fique
Fique comigo,
Fique comigo...
Se o céu que vemos lá em cima
Desabar e cair
Ou as montanhas desmoronarem no mar
Eu não chorarei, eu não chorarei
Não, eu não derramarei uma lágrima,
Desde que você fique
Fique comigo
Quando você estiver com problemas, você não contará comigo?
Oh, conte comigo
Oh, você não ficará agora?
Conte comigo
Cultura livre: inteligência coletiva
O encontro da aula passada contou com a participação dos colaboradores Philipe Ribeiro e Uiraporã Maia. Não vou me ater aqui ao que eles são formados, ou em que e onde trabalham. O importante mesmo é a mensagem que trouxeram de um movimento que cada vez ganha mais forma e vez no mundo: a cultura livre.
Um discurso um tanto quanto preconceituoso com o jornalismo da grande mídia é verdade. Mas, as palavras de Philipe Ribeiro, embora carregadas de uma “revoltazinha” com jornalistas que não sabem fazer matérias em conflitos entre estudantes e prefeituras (brincadeira), nos remete a um movimento em que muitas pessoas estão imersas, mas que não fazem nem idéia.
Pergunte a qualquer um que trabalha com internet se o “clássico” IE (Internet Explorer) é melhor que “Mozilla Firefox”. A resposta, quase sempre antecedida de um “é claro”, vai direto para a segunda opção. E por que vários programas, como por exemplo, o “Mozilla”, tem superado os clássicos pacotes da “Microsoft” e de outras grandes indústrias da computação?
A resposta é simples, e os nossos colegas, que vieram especialmente para a discussão do tema em sala de aula, nos ajudaram a responder. Um software livre (opensource), por exemplo, possui um código aberto, que permite usuários de qualquer parte do mundo ter a liberdade de modificar aquele programa, tornado mais fácil o seu aperfeiçoamento.
É uma idéia relativamente nova. Teve seu nascedouro na década de 80, quando um desses pequenos gênios da história se irritou com uma marca de impressoras - que não liberou código de um programa para ele – e resolveu criar programa e disponibilizar código para todo mundo. Só para título de informação, esse cidadão se chama Richard Stallman.
Achei interessante quando Philipe Ribeiro falou da cultura livre, dessa vez de maneira geral, não apenas limitando-se ao software livre, como forma de uma inteligência coletiva, que não tem dono, não tem controle, nem deseja tê-los.
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segunda-feira, 17 de novembro de 2008
A Inclusão no Mercado de Trabalho
Promover a inclusão social de pessoas com deficiência mental. Esse é o principal objetivo da Apae, Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais. Na sétima palestra que tivemos na disciplina contamos com a presença da vice-presidente da Associação de Fortaleza, Maria Lúcia Barbosa. Ela estava acompanhada da também voluntária Terezinha Gomes Cavalcante.
Dentre os diversos trabalhos promovidos pela Apae da capital cearense está o de inserção dos deficientes no mercado de trabalho. Através de oficinas, como de informática, de corte e costura e de carpintaria, os alunos são preparados e treinados para fazerem “bonito” nos futuros empregos. Um vídeo exibido mostrou o quanto essa iniciativa parece estar dando certo.
Mas o grande questionamento a ser feito é: as empresas que contratam pessoas com deficiência têm uma boa índole ou apenas estão procurando respeitar a lei? De acordo com Lei de Cotas para Portadores com Deficiência (nome que já está em desuso), empresas com cem ou mais empregados estão obrigadas a preencher de 2% a 5% de seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas com deficiência.
Nos últimos anos, se tornou cada vez mais comum vermos deficientes mentais ou físicos com um crachá no peito representando alguma marca. Mas o que percebemos é que a escolha deles passa por um processo seletivo no mínimo desconfiável. Aqueles com capacidade mental privilegiada e sem limitações físicas parecem ser os preferidos, já que podem realizar as funções a que são determinados com menos dificuldades. Com isso, notamos que não se encara a proposta da lei da maneira adequada, mas procura-se apenas cumpri-la de uma forma antiética. Estaria a inclusão realmente acontecendo?
Com certeza, existem exceções ao que parece ser a regra. Cabe ao Governo e a essas Associações, entre elas a Apae, fiscalizar minuciosamente esse processo, porque infelizmente, não vivemos em uma sociedade que prioriza o bem ao próximo, mas sim, o dinheiro mais próximo. Por isso, invistamos na qualificação das pessoas com deficiência do nosso país, ofereçamos cursos para que elas se preparem, insiramo-las no mercado de trabalho e fiquemos “de olho” nesse processo de inclusão.