sábado, 25 de outubro de 2008

Amor incondicional

Foi numa pequena casa alugada em Fortaleza que o sonho começou. A APAE – Associação de Pais e Amigos de Excepcionais – tornou-se mais uma opção sem custos para o atendimento especializado de deficientes intelectuais. Passados anos, hoje, o Brasil já conta com cerca de 2000 instituições apaianas; e, no Ceará, já passam de 22. É em um prédio na Rogaciano Leite que a sua atual sede está instalada desde 1982. A ‘Campanha do Tijolo’ e a ‘Feira do Cacareco’ foram fundamentais para que os responsáveis pela instituição angariassem fundos para a conclusão das obras no local.

Na nossa Agenda Social de quinta-feira passada, 23, tivemos a oportunidade de conhecer a vice-presidente da APAE Fortaleza, Maria Lúcia Barbosa, e a 2ª secretária, Tetê Picanço, que explicaram o objetivo principal da instituição. “Nós atendemos pessoas com síndromes leves (Down e deficiência intelectual). Os pais levam os filhos a APAE e após uma reunião com a diretoria, a assistente social, a terapeuta e a psicóloga analisamos se a criança tem condições de ser atendida”. E acrescentaram: “Lá, a mãe recebe a orientação adequada para que o aluno se desenvolva em casa”.

A APAE possui aproxidamente 410 alunos e mais de 100 profissionais (assistentes sociais, psicólogos, terapeutas e professores – voluntários ou não, já que a Secretaria de Educação do Estado e do Município cedem os profissionais de educação). E todo o trabalho é financiado por doações – através de telemarketing – e pelos projetos da instituição com as instâncias dos governos municipal, estadual e federal.

Maria Lúcia destaca o papel da mídia como fundamental para a visibilidade do projeto da APAE, que é reconhecido internacionalmente. “Os meios de comunicação têm muito respeito com a gente. Sempre estão nos apoiando e nos divulgando”.


Edgel Joseph

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Um jeito especial de viver

Por Lívia Nunes

A missão de ser mãe, naturalmente, não é tarefa fácil. São batalhas travadas, conquistas festejadas, noites acordadas. Tudo por um filho. Entretanto, ser mãe de uma criança com deficiência requer ainda mais coragem, dedicação e luta.

Não bastasse o drama de criar um filho com deficiência, muitas das mães vêem seus lares destruídos quando abandonadas pelos maridos. E foi buscando força junto às outras mães e lutando por dignidade para seus filhos que um grupo de mães fundou o Centro de Apoio às Mães de Portadores de Eficiência – CAMPE.

Pode parece estranho, mas a escolha da palavra eficiência não foi um erro, nem por acaso. Segundo a nossa desembaraçada convidada da semana, Keila Chaves, membro do CAMPE e mãe de criança com deficiência, a escolha foi para demonstrar que mesmo com deficiência é possível ter uma vida ativa. “Mostra o outro lado do filho, porque o lado deficiente já salta à vista”, explicou.

Em quase uma hora de conversa, contemplamos a saga de uma mãe que nunca baixou a cabeça para os preconceitos ou para o descaso do Governo. “Antes os Governos diziam que tínhamos que ficar em casa escondidos”. Os próprios médicos nos incentivam a deixar o deficiente isolado, acrescentou.

Hoje, mais ciente da realidade, Keila dá o alerta: “Se a família não estiver fortalecida, o deficiente vai sofrer e viver na marginalidade”.

Segundo Keila, as mães desconhecerem os direitos dos filhos. “As mães nem sabem que os filhos podem chegar à escola”. Mas como bem ela enfatizou: “o papel do pai é matricular o filho, o papel da escola é matricular o aluno e o papel do Governo é garantir a educação”.

Com o atual decreto 60.571, que garante a escola acolhedora de pessoas com deficiência verba em dobro, as mães militantes estão confiantes. “Agora com o decreto, a gente acredita que as escolas irão cumprir o dever de matricular nossos filhos”.

Perto de completar cinco anos de existência, o CAMPE assume a missão de cobrar os direitos das crianças, denunciando e pressionando os Governos. “As leis nunca vão sair do papel se não forem cobradas”, enfatizou Keila.

Apesar das muitas conquistas, inclusive com o resgate da esperança das mães, Keila frisou que os desafios são quase os mesmos e que os dados ainda são muito maquiados.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Para um movimento míope, uns óculos críticos


Minhas palavras começam com uma constatação. O Movimento dos Sem Terra (MST) está cada vez mais inserido no contexto urbano. Não é preciso estatística para notar diversos segmentos fora da massa rural, como universitários, professores, acadêmicos, entidades, além de outros simpatizantes, atuando diretamente no movimento e assumindo um compromisso e uma luta que realmente na condizem com a realidade deles.


O que isso quer dizer? Qual o problema de pessoas da classe média, que na maioria das vezes nunca pisaram em um solo rachado do sertão, demonstrarem simpatia pela “causa”? Explico. Há cerca de 25 anos, este movimento surgiu com uma proposta clara e compreensível de luta pela reforma agrária. Uma conta bem simples, embora ainda não aplicada: pegar um total de terras improdutivas e dividi-lo, de forma justa, para famílias da zona rural que não tem onde desenvolver atividades que as satisfaçam, tanto economicamente, como socialmente.


O que aconteceu nos últimos anos, e o que preocupa pela inversão de conceitos, é que o Movimento, que lutava contra uma condição social excludente (a falta de terra), como ela podemos citar o analfabetismo, passou a tratar os “seus” injustiçados, que teoricamente não deveriam existir, em uma velha e marxista classe social. Uma troca de papéis, em que aquele que não deveria estar na condição (excludente), passa a ser reconhecido pela própria exclusão, e o fato de ser excluído o coloca em um grupo que não parece ter fim. Nem ao menos quer ter.


  É como se surgisse um Partido dos Analfabetos, que lutam não para deixarem a condição de excluídos da escrita, mas para reverberarem a sua situação, classista, que os permite lutar contra a ordem opressora.  O que ocorre, em realidade, é que os sem-terras recebem as terras, mas não deixam de ser sem-terras. Um processo sem fim. Sem lógica.


Hoje, no MST, não está em jogo a condição de injustiçado, que com a luta, teoricamente, se caminharia para uma solução ou para uma redução do problema. Infelizmente, o foco não é esse.  A nossa entrevistada, Joyce Ramos, em suas palavras, somente ratificou a minha opinião, e deixou bem claro que o MST luta contra o sistema repressor (capitalista, fetichista, imoral etc), não contra uma condição. Ela dispensa qualquer tipo de saída dentro da lógica mundial.


A terra? É só isso que querem? Não. Ela é apenas uma coadjuvante de uma luta bem maior. Pelo que vi nas palavras dessa moça de pouco mais de 20 anos, se olha muito mais adiante...muito mais longe... tão longe do horizonte, que a vista começa a embaçar. E é com esse olho que começa a enxergar pouco, porém longe, que notamos um ex-movimento social se tornar partido político. Nada contra eles, mas é que é preciso uns óculos críticos para que se notem as idéias fora do lugar. 

domingo, 19 de outubro de 2008

Força e Movimento Social

Uma das pessoas mais fortes que eu já conheci até hoje foi a minha mãe. Mãe solteira de três filhos, nasceu no interior do Ceará, mulher pequena, magra, mas decidida e se dobra à pouca coisa na vida. Durante a fala de Keila, uma das mães fundadoras do CAMPE (Centro de Apoio a Mães de Portadores de Eficiência) eu não conseguia parar de pensar se a minha mãe teria tido força para enfrentar uma luta daquelas, no caso de eu ter nascido com paralisia cerebral.

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Depois de tentar repetidas vezes matricular seu filho David em escolas, inclusive escolas particulares, sempre com resposta negativa, Keila começou a se mobilizar no sentido de tomar conhecimento dos seus direitos na busca de dar dignidade ao seu filho, que nasceu com uma doença sem diagnóstico. Depois que descobriu a Declaração de Salamanca, que garante não só o direito de todas as pessoas terem acesso à educação, mas também que esse acesso se dê próximo à sua casa, Keila se mobilizou com outras poucas mães e levou 20 alunos para dentro de uma escola pública.

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Pouco antes do nosso encontro com Keila eu conversava com alguns outros alunos da sala sobre os movimentos sociais. Qual seria a relevância dos movimentos sociais? O quanto eles estariam corrompidos com os desvios de verba nas ONGs? O que seria obrigação do Estado e o que seria papel da Sociedade? Eu, particularmente, já me envolvi em vários movimentos: Literofágicos, Movimento Cactus, Bufo!, TR.E.M.A., Oficina de Quadrinhos, projetos de extensão, coletivos de democratização da comunicação, trabalhos (voluntários ou não) em ONGs... todos, de alguma maneira, deram errado ou acabaram pela metade... eu sempre me perguntei se faltava força e por que motivo...

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Keila repetiu algumas vezes durante a fala que se descobriu militante depois de muito batalhar pelos direitos do seu filho. A luta veio primeiro e o título depois, talvez seja essa a origem da força que me falta para o movimento social, sendo eu branco, jovem, homem, vindo de classe médio, o fato de não ter uma opressão direta talvez mine minhas forças antes de conseguir dar base às minhas ações. Talvez essa seja a verdadeira força que move a sociedade.

Inclusão pela informação

Continuando com seu ciclo de visitantes, a turma da disciplina de Cobertura da Agenda Social recebeu no dia 10 de outubro Keila Chaves e Lizane, representantes da ONG Centro de Apoio a Mães de Portadores de Eficiência (CAMPE). A organização nasceu da dificuldade de mães em matricularem seus filhos, portadores de deficiência, nas escolas. Mesmo isto sendo um direito previsto em lei.

“Quem dá vida às leis é a militância”, foi com pensamentos como este que Keila Chaves definiu o posicionamento do CAMPE diante da luta ao acesso de pessoas com deficiência à educação. Ela relata que a maior vitória, até agora, da organização foi conseguir matricular 20 pessoas no ensino público no ano de 2005.

Keila, sempre passando muita paixão e bom humor em suas palavras, rejeita a imagem de coitado da pessoa com deficiência e mostra que sua maior arma é a informação, citando decretos nacionais e a declaração de Salamanca.

Durante sua visita, Keila relata a dificuldade das mães de filhos com deficiência, que muitas vezes, por questões de preconceito, são abandonadas por seus maridos, tendo que conduzirem sozinhas suas famílias.

A presença de Keila, mais do que nos informar sobre a atuação do CAMPE ou da situação da pessoa com deficiência em nossa sociedade, mostra o quanto estamos desinformados, que a deficiência não vem propriamente de um problema físico, mas sim de postura.

Declaração de Salamanca

A Declaração de Salamanca é considerada um dos principais documentos mundiais que visam a inclusão social, ao lado da Convenção de Direitos da Criança (1988) e da Declaração sobre Educação para Todos de 1990. Ela é o resultado de uma tendência mundial que consolidou a educação inclusiva, e cuja origem tem sido atribuída aos movimentos de direitos humanos e de desinstitucionalização manicomial que surgiram a partir das décadas de 60 e 70.

CAMPE – Rua Prof. Edgar Arruda, 480, Jockey Clube – Fortaleza/CE – fone: 85- 3496.587

Link útil: UNESCO

O campo de combate?

A turma da disciplina Cobertura da Agenda Social do curso de comunicação social da Universidade Federal do Ceará – UFC recebeu, na quinta-feira do dia 2 de outubro, Joyce Ramos, representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Integrante do movimento há 11 anos, Joyce é atualmente integrante do setor de comunicação do MST no estado do Ceará. Durante sua apresentação, Joyce comentou sobre os 25 anos de vida do MST, seu posicionamento político e sua postura de ações.

Totalmente legitimado pela questão da reforma agrária, o MST mostrado para todos os presentes foi de um movimento que busca, além da questão social, também um ideal socialista sustentado por seus antigos pilares, passando a idéia de que o país somente conseguirá ser mais justo quando abolir o capitalismo. Para Joyce, mesmo iniciativas como as redes sociais de economia tornam-se um pequeno paliativo diante do grande mal do capitalismo.

Com um discurso antigo, não necessariamente ultrapassado, tendo em vista a mais recente crise financeira do capitalismo, o MST procura através de parcerias com universidades – a UFC entre estas - visualizar um futuro para a organização que vai além das ações de ocupação.

O MST tem uma importante participação na história do país nas últimas décadas, como sendo o maior movimento que luta pela reforma agrária. Infelizmente sua presença, tardia na cronologia histórica do Brasil, ainda luta para ser legitimada como autêntica pelos meios de comunicação. Em uma sociedade tão cheia de problemas, em todas as esferas sociais e geográficas, faz com que a presença do MST seja necessária, para mostrar o que ainda temos que resolver.

Link útil: O Cerco