domingo, 19 de outubro de 2008

Força e Movimento Social

Uma das pessoas mais fortes que eu já conheci até hoje foi a minha mãe. Mãe solteira de três filhos, nasceu no interior do Ceará, mulher pequena, magra, mas decidida e se dobra à pouca coisa na vida. Durante a fala de Keila, uma das mães fundadoras do CAMPE (Centro de Apoio a Mães de Portadores de Eficiência) eu não conseguia parar de pensar se a minha mãe teria tido força para enfrentar uma luta daquelas, no caso de eu ter nascido com paralisia cerebral.

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Depois de tentar repetidas vezes matricular seu filho David em escolas, inclusive escolas particulares, sempre com resposta negativa, Keila começou a se mobilizar no sentido de tomar conhecimento dos seus direitos na busca de dar dignidade ao seu filho, que nasceu com uma doença sem diagnóstico. Depois que descobriu a Declaração de Salamanca, que garante não só o direito de todas as pessoas terem acesso à educação, mas também que esse acesso se dê próximo à sua casa, Keila se mobilizou com outras poucas mães e levou 20 alunos para dentro de uma escola pública.

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Pouco antes do nosso encontro com Keila eu conversava com alguns outros alunos da sala sobre os movimentos sociais. Qual seria a relevância dos movimentos sociais? O quanto eles estariam corrompidos com os desvios de verba nas ONGs? O que seria obrigação do Estado e o que seria papel da Sociedade? Eu, particularmente, já me envolvi em vários movimentos: Literofágicos, Movimento Cactus, Bufo!, TR.E.M.A., Oficina de Quadrinhos, projetos de extensão, coletivos de democratização da comunicação, trabalhos (voluntários ou não) em ONGs... todos, de alguma maneira, deram errado ou acabaram pela metade... eu sempre me perguntei se faltava força e por que motivo...

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Keila repetiu algumas vezes durante a fala que se descobriu militante depois de muito batalhar pelos direitos do seu filho. A luta veio primeiro e o título depois, talvez seja essa a origem da força que me falta para o movimento social, sendo eu branco, jovem, homem, vindo de classe médio, o fato de não ter uma opressão direta talvez mine minhas forças antes de conseguir dar base às minhas ações. Talvez essa seja a verdadeira força que move a sociedade.

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