segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Para um movimento míope, uns óculos críticos


Minhas palavras começam com uma constatação. O Movimento dos Sem Terra (MST) está cada vez mais inserido no contexto urbano. Não é preciso estatística para notar diversos segmentos fora da massa rural, como universitários, professores, acadêmicos, entidades, além de outros simpatizantes, atuando diretamente no movimento e assumindo um compromisso e uma luta que realmente na condizem com a realidade deles.


O que isso quer dizer? Qual o problema de pessoas da classe média, que na maioria das vezes nunca pisaram em um solo rachado do sertão, demonstrarem simpatia pela “causa”? Explico. Há cerca de 25 anos, este movimento surgiu com uma proposta clara e compreensível de luta pela reforma agrária. Uma conta bem simples, embora ainda não aplicada: pegar um total de terras improdutivas e dividi-lo, de forma justa, para famílias da zona rural que não tem onde desenvolver atividades que as satisfaçam, tanto economicamente, como socialmente.


O que aconteceu nos últimos anos, e o que preocupa pela inversão de conceitos, é que o Movimento, que lutava contra uma condição social excludente (a falta de terra), como ela podemos citar o analfabetismo, passou a tratar os “seus” injustiçados, que teoricamente não deveriam existir, em uma velha e marxista classe social. Uma troca de papéis, em que aquele que não deveria estar na condição (excludente), passa a ser reconhecido pela própria exclusão, e o fato de ser excluído o coloca em um grupo que não parece ter fim. Nem ao menos quer ter.


  É como se surgisse um Partido dos Analfabetos, que lutam não para deixarem a condição de excluídos da escrita, mas para reverberarem a sua situação, classista, que os permite lutar contra a ordem opressora.  O que ocorre, em realidade, é que os sem-terras recebem as terras, mas não deixam de ser sem-terras. Um processo sem fim. Sem lógica.


Hoje, no MST, não está em jogo a condição de injustiçado, que com a luta, teoricamente, se caminharia para uma solução ou para uma redução do problema. Infelizmente, o foco não é esse.  A nossa entrevistada, Joyce Ramos, em suas palavras, somente ratificou a minha opinião, e deixou bem claro que o MST luta contra o sistema repressor (capitalista, fetichista, imoral etc), não contra uma condição. Ela dispensa qualquer tipo de saída dentro da lógica mundial.


A terra? É só isso que querem? Não. Ela é apenas uma coadjuvante de uma luta bem maior. Pelo que vi nas palavras dessa moça de pouco mais de 20 anos, se olha muito mais adiante...muito mais longe... tão longe do horizonte, que a vista começa a embaçar. E é com esse olho que começa a enxergar pouco, porém longe, que notamos um ex-movimento social se tornar partido político. Nada contra eles, mas é que é preciso uns óculos críticos para que se notem as idéias fora do lugar. 

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