sábado, 30 de agosto de 2008

Selo Unicef, eleições 2008 e um cuidado


Luís Gustavo de Negreiros Secundino

O encontro da última aula, que contou com a participação da jornalista Ana Márcia Diógenes, responsável pela comunicação da Unicef em 3 estados, foi importante por apresentar a gama de assuntos que abrangem a problemática da cobertura jornalística, no tocante à criança e ao adolescente. No entanto, o que mais me chamou atenção foge um pouco das redações e se encaixa perfeitamente no momento atual em que vivemos: as disputas eleitorais para prefeito e vereadores nos municípios brasileiros. Como será essa temática vem sendo trabalhada nas Eleições 2008?


A jornalista Ana Márcia fez questão de salientar que o Selo Unicef é o principal projeto da instituição no semi-árido. Segundo ela, 60% dos recursos são aplicados nessa empreitada, que premia com um simbólico selo os municípios que avançaram com relação às políticas públicas voltadas às crianças e aos adolescentes. Não há como duvidar do peso de um projeto como esse. Um investimento a longo prazo, que pode estar levando um avanço social às regiões mais carentes do Nordeste.


Porém, é importante um olhar crítico, quando se vê um selo com os dizeres "município aprovado". Ninguém é inocente de enxergar a premiação do Unicef como filantropia ou boa vontade do Prefeito. É óbvio que há um forte viés eleitoral. Imagino que todos os que tentam a reeleição em seus municípios querem essa marca simbólica de gestão, que funciona quase como um ISO.


O Unicef sabe disso. Fiquei feliz quando a jornalista Ana Márcia fez questão de dizer que a instituição está atenta a esse tipo de utilização do projeto. Tanto, que a lista dos municípios aprovados esse ano só poderá ser acessada após o período eleitoral, impedindo que os resultados sejam utilizados nas mais diversas campanhas.


No entanto, fica o alerta. Caso você veja o prefeito da sua cidade estampando o Selo Unicef em camisas ou faixas, lembre-se que ele só pode estar se referindo a anos anteriores. De qualquer maneira, é bom dar uma acessada no site e verificar a veracidade do discurso. Ser cidadão não é só votar! Bem, mais um assunto para a próxima aula.

Muito além da nota final!

Por Gabriela Meneses

A cena era comum no ambiente universitário. Estudantes, professor, convidado. Vou anotar tudo que ela disser. E o texto para o blog? E minha nota? Pensamentos como esses poderiam estar por trás de olhares atentos e curiosos. Ou não. Muito além da nota final, nós, futuros (ou já) profissionais de Comunicação tivemos a chance de vivenciar, através da experiência da comunicadora Ana Márcia Diógenes, oficial de comunicação do UNICEF, a luta pela garantia dos Direitos Humanos de crianças e adolescentes.

Entrar nesse campo é adentrar também nas políticas públicas que devem atender e garantir a efetivação desses direitos, uma vez que o Estado é responsável pela organização da vida coletiva e deve promover as condições necessárias para a existência digna dos indivíduos. Assim, Ana Márcia apresentou um dos principais projetos do UNICEF no Ceará, o selo UNICEF, que trabalha em parceria com os dirigentes municipais.

Essa iniciativa promove um espaço de cidadania para crianças e adolescentes. Os municípios atuam na perspectiva de desenvolver a comunicação comunitária, incentivando o público infanto-juvenil a produzir suas próprias peças de comunicação, e de incentivar a participação de crianças e adolescentes na gestão das políticas públicas. Atingindo os objetivos propostos pelo Unicef, o município é premiado com um selo de qualidade da criança e do adolescente.

www.selounicef.org.br

Entrar no campo dos Direitos Humanos é analisar também a participação do trabalho dos comunicadores sociais, que tem o poder de provocar reflexões na sociedade sobre os mais variados assuntos. Ana Márcia destacou a ANDI (Agência Nacional dos Direitos da Infância) como importante colaboradora no processo de formação de profissionais para atuar com os temas da infância e da adolescência no Brasil.

www.andi.org.br

No Ceará, a ONG Catavento Comunicação e Educação, através do trabalho da ANDI, promoveu uma pesquisa que traça um panorama da cobertura dos temas da infância e da adolescência no Estado. Felizmente, de acordo os dados da pesquisa, realizada em 2004, houve um avanço em relação ao ano anterior: a quantidade de matérias, veiculadas nos dois maiores jornais cearenses (Diário do Nordeste e O Povo), com enfoque na criança e no adolescente aumentou 27% em relação ao ano anterior.

No entanto, na mesma pesquisa, foi constatado que apenas 5,94% do total das fontes ouvidas por jornalistas eram crianças e adolescentes. Em matérias em que esses atores sociais aparecem como agente de algum tipo de violência, a polícia foi ouvida em 66,53%, os Conselhos Tutelares foram fontes em apenas 0,41% e os adolescentes, em 5,31%. Esses dados mostram que ainda é necessário mobilizar os profissionais, a fim de estreitar o diálogo entre a mídia e os temas da infância e da adolescência.

A experiência profissional e as informações apresentadas por Ana Márcia nos instigam a lutar por uma cobertura mais eficaz, mais profissional e mais comprometida com a promoção e a garantia dos Direitos Humanos da criança e do adolescente. Iniciativa que nos leva muito além dos pontos para a nota final, dirige-nos a exercer plenamente a função de comunicadores sociais.
Por Darlano Dídimo

A jornalista Ana Márcia Diógenes, oficial de comunicação da Unicef, foi a primeira convidada da disciplina "cobertura da agenda social", do curso de Comunicação Social da UFC. Ana Márcia iniciou sua carreira na área trabalhando no jornal "O Povo". A jornalista também teve experiências na TV jangadeiro e na TV Manchete, além de experimentar a assessoria de imprensa.

Ana Márcia começou a trabalhar no Unicef em fevereiro de 2001, onde permanece até hoje. O Fundo das Nações Unidas, o Unicef, é uma agência das Nações Unidas que tem como objetivo promover a defesa dos direitos das crianças, ajudar a dar resposta às suas necessidades básicas e contribuir para o seu pleno desenvolvimento.

O Fundo atua em 155 países pelo mundo. No Brasil, a agência possui oito escritórios, além da sede oficial em Brasília. No Nordeste, existem escritórios em Fortaleza, Recife, São Luís e Salvador.

O Unicef surgiu em 1946 com o objetivo de ajudar crianças vítimas de guerra, mas acabou ampliando sua atuação para crianças carentes do mundo inteiro. A área de cobertura da agência está diretamente ligada ao direito da criança e do adolescente. Um dos principais programas promovidos pelo Unicef atualmente é o Selo Unicef. A iniciativa faz parte do projeto de Comunicação Comunitária, que tem como objetivo estimular que os municípios entendam o que é comunicação e façam comunicação. O ideal é promover uma reflexão sobre o papel dos meios de comunicação na sociedade.

Segundo Ana Márcia Diógenes, apenas 22% das cidades utilizavam os meios de comunicação, e a maioria que desenvolvia esse trabalho tinha uma credibilidade baixa. Para a oficial de comunicação, o Selo além de ter mudado a realidade comunicacional do município, mudou a forma passiva como os políticos viam as crianças e adolescentes.

Outro assunto tratado por Ana Márcia foi a forma como os meios de comunicação cearenses tratam o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Eca, criado em 1990. De uma maneira geral, a jornalista disse que há uma grande incompreensão do estatuto, pois eles tratariam apenas dos direitos exigidos pelo documento, e não dos deveres proporcionados.

De acordo com a pesquisa "A criança e o adolescente na mídia cearense", realizada pela agência Catavento e pala rede ANDI Brasil, o Ceará representa 1,7% das 8.434 notícias que citaram o Eca ao longo do ano de 2004. Os dois principais jornais acompanhados, "O Povo" e o "Diário do Nordeste",ficaram entre os três que mais publicaram matérias citando o Estatuto, sendo que "O Povo" divide a primeira colocação com o jornal "A Tarde", de Salvador.

Dentre os problemas detectados pela pesquisa está a ocultação de uma série de pautas nas matérias em que o Eca é mencionado. Das 147 notícias analisadas no Ceará, apenas duas mencionam uma discussão de raça e etnia. Somente uma matéria cita o documento "Um Brasil para as crianças", documento que contém um conjunto de metas e objetivos sociais nas áreas de educação, saúde, proteção e HIV, e o Plano Presidente Amigo da Criança, que reúne propostas e projetos do Governo Federal para alcançar as metas estabelecidas no documento já citado.

Dentre as soluções propostas para consertar os problemas no trabalho da imprensa cearense na área estão: qualificar os jornalistas no tema e prepará-los para o diálogo com as fontes; citar, nas matérias que envolvam direitos previstos no Estatuto, o artigo ao qual se refere, seja quando falar sobre uma ação ou uma omissão; envolver cada vez mais os meios de comunicação, no sentido de se tornarem pública a discussão acerca da infância e da adolescência.

Cresce número de assuntos ligados à criança e ao adolescente na mídia cearense


 

Para falar um pouco sobre o tema "criança e adolescente", a jornalista Ana Márcia Diógenes, que, há sete anos, é uma das responsáveis pela comunicação do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), esteve presente para uma conversa amigável conosco, estudantes de jornalismo, da disciplina Cobertura da Agenda Social, do curso de Comunicação Social da UFC.

 

Depois de uma breve apresentação do UNICEF, que surgiu como fundo de emergência, durante a guerra, para amparar as crianças atingidas e, posteriormente, passou a atuar em países em desenvolvimento, Ana Márcia fez questão de mostrar alguns números que dizem respeito à cobertura de assuntos ligados à criança e ao adolescente pelos meios de comunicação cearenses.

 

Segundo a jornalista, a ANDI (Agenda de Notícias dos Direitos da Infância) realizou, no ano de 2004, uma pesquisa com o tema "A criança e o Adolescente na Mídia do Ceará", que selecionou textos ligados direta ou indiretamente a aspectos do universo infanto-juvenil. Durante a pesquisa, quatro jornais cearenses foram analisados: O Povo, Diário do Nordeste, O Noroeste e Jornal Cariri.

 

Ao longo desse um ano, foram contabilizadas 8.434 notícias relacionadas à criança e ao adolescente. Destas, a maioria tinha como enfoque temas ligados à educação, à saúde, ao direito e à justiça e à violência. Em contrapartida, assuntos como sexualidade, situação de rua, desaparecidos e migração ficaram a margem, representando apenas 0,94% das notícias.

 

Embora os números ainda estejam bem aquém do almejado, há muito que se comemorar. De 1996 a 2004, cresceu, em 1.300%, o número de notícias ligadas ao tema. "A cobertura da mídia melhorou muito. Hoje, existem profissionais que, por estarem mais familiarizados com o tema, fazem matérias mais humanizadas", justificou Ana Márcia. "Parte dessa mudança também se deve às transformações dentro das faculdades, que estão ofertando disciplinas que levantam essas discussões", acrescentou.

 

Fazendo jus as palavras de Ana Márcia, a disciplina Cobertura da Agenda Social se propõe a trazer discussões humanizadas, sobre temas como: Direito Humano, Estatuto da Criança e do Adolescente, índio, negro, gênero, cultura livre, dentre outros.

 

SAIBA MAIS...

 

O UNICEF é uma instituição internacional, apartidária, que atua em 157 países, e se mantém graças a doações e vendas de produtos UNICEF;

 

Ele está presente no Brasil desde 1950, e conta com oito escritórios localizados nas áreas mais carentes.

 

A instituição tem como missão lutar pelos direitos das crianças e dos adolescentes em todo o mundo.

 

O Brasil e o UNICEF

por Ulysses Magno

Presente em 155 países o UNICEF, a instituição máxima na defesa dos direitos da infância, procura, utilizando-se da comunicação como uma ferramenta eficaz, promover no Brasil uma cultura de mobilização, envolvendo sociedade civil e estado na melhoria da qualidade de vida da criança e do adolescente.

Foi esclarecendo o papel da instituição internacional, que a jornalista Ana Márcia Diógenes, oficial de comunicação do UNICEF, expôs as ações da entidade aos alunos da disciplina Cobertura da Agenda Social da UFC no último dia 21 de agosto.


Durante a apresentação Ana Márcia mostrou as diversas ações praticadas pelo UNICEF, além de justificar suas áreas de atuação. Basicamente, o UNICEF age em duas importantes frentes, na captação de recursos para ONGs que defendem a causa da infância e no diálogo constante com o estado.


Sempre presente como um ator no contexto internacional, talvez, o mais importante papel da instituição no Brasil é de ser um facilitador e promotor na capacitação de pessoas e entidades que atuam diretamente na interminável jornada de levar alguma melhoria na qualidade de vida das crianças e adolescente do país.


São inquestionáveis as iniciativas do UNICEF no contexto brasileiro, contudo, neste momento, mais do que mencionar as ações, vale salientar o quanto é fundamental a imagem da entidade como referência na conscientização da nossa sociedade, em mostrar o que não quer ser visto.

UNICEF

Ana Márcia Diógenes, atualmente Oficial de Comunicação do UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância - no Pólo que abrange Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, palestrou no último dia 21 aos alunos da Universidade Federal do Ceará (UFC), matriculados na disciplina de "Cobertura da Agenda Social", sobre suas experiências profissionais e sobre o posicionamento da mídia em relação à problemática "Criança e Adolescente".

Foi no UNICEF, organização responsável por assegurar os "Direitos da Criança e do Adolescente", que Ana Márcia começou a lidar, diretamente, com a questão social e a mobilização política dentro da comunicação. Segundo ela, que teve vasto contato com o meio comunicativo, com destaque para o "Jornal O Povo" e a "TV Jangadeiro", foi no UNICEF que ampliou seus conhecimentos sobre formatos diferenciados de comunicação, comunicação alternativa e comunicação comunitária. "Até há pouco tempo, não existia tanta abertura na comunicação para se discutir novos formatos e novas possibilidades de se trabalhar. Hoje, já fazemos até isso que estamos fazendo agora, discutindo sobre a questão social", confessa.

O Trabalho realizado pelo Fundo das Nações Unidas foi iniciado em 1946 para ajudar a reconstruir os países mais afetados pela Segunda Guerra Mundial e foi consolidado em 1950, tornando a organização um Fundo Permanente. Desse momento em diante, a atuação do UNICEF não se restringiu mais somente aos países atingidos pela Guerra, mas também aos locais de miséria, atendendo, hoje, 191 países por meio de parcerias com governos municipais, estaduais, federal, sociedade civil, grupos religiosos, mídia, setor privado e organizações internacionais. Só no Brasil são 7 escritórios e 1 sede em Brasília.

Apesar da falta de recursos, o UNICEF batalha e desenvolve inúmeros trabalhos que vão desde o fortalecimento dos agentes responsáveis pela universalização dos "Direitos da Criança e do Adolescente" ao monitoramento das políticas públicas voltadas para "seus meninos e suas meninas". A comunicação, portanto, se faz uma aliada insubstituível, no sentido de que é ela que possibilita o contato e a passagem de dados relacionados a esta situação para a sociedade, observando que a mídia em si não tem dado tanta importância à questão da criança e do adolescente. No entanto, é válido afirmar que houve um crescimento considerável da cobertura do assunto nos últimos anos, ressaltando mais uma vez a atuação do UNICEF, através de projetos, como a capacitação de comunicadores.

O UNICEF trabalha com dois modelos principais de comunicação, a Comunicação Estratégica e a Comunicação Comunitária. No setor de comunicação estratégica, como afirmou Ana Márcia, desenvolve-se uma cultura de atuação sobre o público através dos chamados 5 verbos – sobreviver e se desenvolver, aprender, proteger(-se) do HIV/aids, crescer sem violência e ser prioridade nas políticas públicas –, realizando este trabalho de uma forma mais abrangente. Já através da Comunicação Estratégica, onde o UNICEF dedica mais de 60% de sua verba de comunicação, realiza-se um trabalho mais direcionado e incisivo, por meio do Selo UNICEF, monitorando e avaliando as promoções de políticas públicas voltadas para a criança e para o adolescente, garantindo transparência e desenvolvendo seu programa baseado em pesquisas e dados atualizados.

"Ando muito satisfeita com o trabalho que tenho realizado, apesar de cansativo, o retorno pessoal é muito válido", finaliza Ana Márcia.

Rafael Veras Castelo Branco

Informações: www.unicef.org.br / www.selounicef.org.br

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Selo Unicef: compromisso com a cidadania

Por Viana Júnior

Desde sua criação, o Estatuto da Criança e do Adolescente influencia as práticas educativas dirigidas à criança e ao jovem. Apesar desse aparente, reconhecimento, sua compreensão efetiva — enquanto marco e referencial para uma mudança estrutural das práticas educativas — é ainda uma possibilidade a ser descoberta por toda a sociedade.

Para promover os direitos das crianças e dos adolescentes, como uma política pública e social, o Unicef trabalha com duas frentes: uma estratégica – que traça planos para alcançar os resultados, e outra comunitária – que faz parcerias com a sociedade para tornar os objetivos do fundo palpáveis, o principal projeto é o Selo Unicef.

O Selo Unicef é um reconhecimento que o município pode conquistar pelo resultado dos esforços na melhoria da qualidade de vida de crianças e adolescentes. Segundo a oficial de comunicação do Unicef, Ana Márcia Diógenes, a cada ano, novas exigências são incorporados ao processo de seleção dos municípios merecedores dessa espécie de ISO do compromisso social que observa três aspectos: a gestão municipal, os impactos sociais das medidas adotadas pelo município e a participação política.

Para Ana Márcia, através dessa iniciativa, as práticas educativas e comunicacionais entre as crianças e adolescentes são aprimoradas, visando ao crescimento intelectual e a participação política no semi-árido.

Assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes num Estatuto não é suficiente para incluí-los no processo de construção da sociedade. Além do suporte legal, é preciso dar condições para que eles se tornem participativos nas comunidades ao qual pertencem.

O Unicef no Brasil

O Unicef está presente em 155 países e aqui no Brasil atua através de subdivisões, chamadas plataformas: a do semi-árido (Nordeste) e a da Amazônia. Também está em planejamento a plataforma dos grandes centros urbanos que destinará as suas ações para o combate à violência.
O país conta com oito escritórios (Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, São Luís, Recife, Salvador, Manaus e Belém) e mais a sede em Brasília. De cinco em cinco anos, é realizado um plano de trabalho com o Governo Federal através do Itamaraty, no qual se discute tanto os resultados quanto preparação de novas estratégias.
Mais informações sobre o Selo Unicef: www.selounicef.org.br.

domingo, 24 de agosto de 2008

'A paz é a gente que faz'

Por Edgel Teles

Ano eleitoral e inúmeras promessas de um ‘Brasil melhor’. Na TV, partidos políticos defendem ações de toda estirpe: das mais repetidas às impraticáveis, sob a legenda do bem-estar social. Com as promessas feitas pelo crescente número de pretendentes a uma vaga nas famigeradas assembléias e câmaras, aumenta, também, a esperança do povo. A ilusão do direito à educação, saúde e habitação contrasta com a boa vontade, apresentada durante as eleições, daqueles que se dizem donos do poder. Mas quando os direitos não vêm, e eles pouco vêm, é dever dos votantes cobrar dos votados.

Os insistentes apelos que a população faz ao governo público têm a conquista da paz como objetivo. Entretanto, parece que estamos longe disso, como mostram estatísticas que mais parecem manchetes: 12% das 55, 6 milhões de crianças brasileiras menores de 14 anos são vítimas anualmente de alguma forma de violência doméstica; 18 mil crianças são vitimizadas por dia e 12 crianças são agredidas por minuto. (Fonte: Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e Negligência na Infância).

Muitos afirmam que esses números tão chocantes são resultado de políticas públicas ineficazes e insatisfatórias. Agredir um filho, porém, não é prática dos pais menos favorecidos, já os dados citados acima abrangem famílias de todas as classes sociais. É contraditório, portanto, cobrar um ‘Brasil melhor’ quando, dentro de casa, não há respeito entre pai e filho.

A alegada consangüinidade deixa parentes e vítimas inertes. Os maus tratos, que vão de ‘chineladas’ a abusos sexuais, não são denunciados junto aos Conselhos Tutelares e às Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente. Assim, um dos principais motivos para a impunidade do crime é a falta de coragem.

Deve-se ressaltar que os casos de violência doméstica são pouco denunciados pela mídia.
Há entre os meios de comunicação uma espécie de tabu diante dos casos de incesto no país. Segundo pesquisas realizadas pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), apenas 21,7% dos casos de abuso por parte dos pais são veiculados pela imprensa. Além disso, a palavra 'incesto' pouco aparece nos textos, prejudicando uma visão mais precisa do crime por parte dos leitores, que acabam por desconhecer as causas desse tipo de violência, bem como agir caso estejam em situação parecida. E a informação vem incompleta porque a cobertura é feita priorizando o ato violento em detrimento do fenômeno social.

Exigências por um futuro mais justo de pouco adiantam quando não há uma contribuição geral pela promoção da paz. Devemos aliar campanhas de conscientização, políticas governamentais, auxílio de ONGs e penas legais mais severas ao conceito simples de cidadania. A luta por direitos sociais só poderá ser feita plenamente em uma sociedade na qual os pais respeitam a integridade física e moral dos filhos.

Veja a carta que a apresentadora Xuxa escreveu sobre pais que maltratam os filhos: - Ela está à frente da campanha 'Não bata, eduque!', apoiada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Unesco e Andi - (http://www.naobataeduque.org.br/home/index.php)

Quantas Isabellas vamos perder até entendermos que violência e educação não combinam?
Será que não é o momento de as pessoas perguntarem se realmente educar é bater? Se precisa bater para educar?

Será que é necessário agredir, machucar, tirar sangue de uma criança, para educá-la? Ser o “responsável”, dá direito a bater na criança, com a frágil desculpa de que se está educando?!!!! Assim como outros comportamentos absurdos foram mudados (a escravidão; bater em mulher), está na hora de mudar essa “cultura” de que o pai, a mãe ou o responsável têm o direito de bater em uma criança, para educá-la.

A violência dentro de casa pode começar num olhar raivoso, berros, um tapinha, um empurrão, um beliscão até chegar à tragédia de atirar uma criança pela janela.

É nesse mundo violento que queremos viver? Até quando? O pensamento de algumas pessoas é que, “como eu apanhei quando crianças e estou aqui” - dizem alguns com orgulho - “vou repetir a fórmula, também baterei em meus filhos para ‘educá-los’”. Ou: “Assim ele vai aprender mais rápido, basta eu falar uma só vez e serei obedecido, ele vai saber quem manda aqui”. Minha vontade é gritar : “Quem deu esse direito aos adultos?” E por que algumas pessoas continuam acreditando nisso? Esse “direito”de adulto bater em criança deveria ser cassado. É absurdo! É animal! É irracional! Até os animais protegem os seus filhotes. Por que alguns seres humanos, racionais, não protegem os filhotes da nossa espécie?

É um assunto que tem que ser levado a sério. Temos que trazer este tema para o debate nacional. Criança não é “coisa” , é pessoa, e como pessoa e cidadã, precisa ser respeitada e protegida, precisa ser vista como prioridade, prioridade absoluta.

Há alguns anos, os maridos batiam nas mulheres sem que nada acontecesse. Era ‘normal’. Hoje, é crime bater numa mulher. Há pouco mais de um século, um ser humano podia ser dono de outro ser humano. A tragédia de Isabella causou comoção nacional, ganhou todas as manchetes de jornais, televisão, rádio, internet. Muitas outras histórias trágicas acontecem todos os dias por aí e nem ficamos sabendo. São invisíveis? Neste Brasil tão grande, quantas Isabellas já foram vítimas de violência e as pessoas não sabem?

Até quando vamos nos comover, falar no assunto durante dias, e depois continuar sabendo que situações como essas continuam acontecendo, “invisíveis”, até que uma outra manchete de jornal nos deixe indignados? Quantos pais, mães, responsáveis com raiva por situações de trabalho, ou por falta dele, com uma fechada no trânsito , brigas com namorado(a), marido( mulher), estressados com o dia-a-dia descontam nos filhos? E vão continuar descontando enquanto essa violência invisível não for recebida por toda a sociedade como crime.

Quando uma criança bate em outra, os pais dizem para não bater porque é falta de educação, é violência e tem que conversar com o amiguinho...Mas, como pai e como mãe, podem bater e dizer que é para educar??????? Como pode uma criança se defender de uma pessoa com o dobro do seu tamanho? Como se proteger e se defender daqueles que lhe deram a vida e, teoricamente, deveriam protegê-la?

Por que nossas crianças estão aprendendo dentro de casa o que é violência enquanto deveriam estar aprendendo o verdadeiro significado do amor? Quando ouvimos uma criança pedindo socorro ou sendo agredida por seus pais temos que cruzar os braços? Precisamos proteger nossas crianças com uma lei. Vamos gritar juntos! Violência de pai, mãe e responsáveis contra criança não é educação, é crime!"

No Criança Esperança, Xuxa canta a música a seguir. Tudo pelo combate à violência doméstica:

As nossas mãos
Tem o poder
De dar carinho
Em vez de dor
Tente entender
Pra que bater?
Toda criança
Tem direito ao amor

Vamos cantar
Eu quero Paz
Eu quero Paz
Uma só voz
Eu quero Paz
A Paz a gente é que faz
Vamos plantar
O Grão da paz
Pro mundo todo então colher
É pra lembrar que a Paz
Só pra dizer que a Paz
É a gente que faz

[crianças falam]
*Eu não gosto de sentir dor e fome
*Eu quero crecer sendo cuidado com muito carinho, amor e proteção
*Eu quero viver em segurança num mundo de paz
*Nehuma criança pode trabalhar eu quero ir pra escola estudar
*Eu quero saúde e alimento pra crescer forte e brincar
*Eu tenho medo de armas, eu não aceito nenhuma violência

> No Criança Esperança 2008, a Rainha dos Baixinhos canta a música na linguagem dos surdos. Confira o vídeo no Youtube - http://br.youtube.com/watch?v=x7Ruj0qF_0o