terça-feira, 25 de novembro de 2008

Amar se aprende amando

“O amor que move o sol,
Como as estrelas
O verso de Dante
É uma verdade resplandecente,
E curvo-me ante a sua magnitude,
Ouso insinuar,
Sem pretensão a contribuir
Para que se desvende o mistério amoroso:
Amar se aprende amando.
Sem omitir o real cotidiano,
Também matéria de poesia.”


Carlos Drummond de Andrade


Basta parar alguns minutos; ver com mais sensibilidade o brilho dos olhos; sentir o coração bater forte; ouvir a voz, que passa determinação; saborear histórias doces e, ao mesmo tempo, amargas; cheirar o aroma predominante no ar, aroma de flores, de alegria, de vida. Com os sentidos a flor da pele, algumas vezes fica até difícil imaginar a vida sem sentidos. E na sua vida, qual é o sentido? Seria algum dos cinco sentidos, ou você teria um outro sentido para viver? Mas, e se você nascesse sem os sentidos? Se nascesse sem... ou melhor, com alguma deficiência? Como seria sua vida? Seria sem sentido? Ou você daria algum sentido?
Pergunta difícil? Talvez sim, mas é importante que, antes de tudo, você sinta, ou imagine, como seria sua vida se você fosse deficiente. Na realidade, esta não seria a pergunta correta, já que todos nós sofremos com algum tipo de deficiência, mas, neste caso, considere as deficiências físicas e mentais.
Ainda pensando nesse assunto, pense em quem te apoiaria caso você fosse deficiente? Pensou? Pois é, não raro você deve ter imaginado seus pais, ou, mais precisamente, sua mãe. Mãe, amor incondicional. E foi justamente esse amor que senti quando conheci uma mulher, para mim uma guerreira, chamada Keila Leite Chaves.
Keila é mãe de uma criança deficiente, e foi a partir das dificuldades sofridas com a criação do filho, que não era aceito em nenhuma escola, que ela percebeu as dificuldades vividas por outras mães. Angustiadas e, ao mesmo tempo, determinadas, elas decidiram fundar, em 2003, o CAMPE - Centro de Apoio à Mãe do Portador de Eficiência. As mães preferiram diz eficientes sim, deficientes, não. E foi com aquele amor poético, de um “amar se aprende amando”, que elas iniciaram uma longa caminhada em defesa dos portadores de deficiência.
Em 2004, a ONG começou a funcionar em uma casa alugada pelas mães, que aproveitaram o local para ficar com as crianças, brincar, educar e conversar sobre como resolver as dificuldades com o aceso à educação. No ano de 2005, depois de muito esforço, as mulheres garantiram vagas para 20 crianças e adolescentes.
“O que muita gente não sabe é que a criança deficiente tem direito à escola como qualquer outra criança, a declaração Salamanca está aí”, diz Keila, referindo-se à lei que fala sobre o direito do deficiente estudar. E assim, contando também com o apoio do Ministério Público, da Comissão de Defesa do Direito à Educação e da imprensa, foi possível assegurar o direito à educação.
“Quem dá vida às leis é a militância, os movimentos sociais”, afirmou Keila. E com essa frase, ela chamou ainda mais atenção de todos os alunos. Ela se descobriu militante e percebeu que para ter um direito cumprido, as pessoas precisam se unir, se movimentar, e assegurar seus objetivos. Foi assim, com a luta pelos direitos garantida, que os deficientes passaram a ter direito à escola, a participar e interagir com a sociedade, a mostrar o rosto e a ser lembrados não pela deficiência, mas pela transformação da realidade com a conquista de um espaço. E, com certeza, tudo isso foi possível com um primeiro ato: amar, ação que passou a mover a vida dessas mulheres e assegurou às crianças o direito de amar, direito que elas aprenderam amando a vida.
Por Pamela Lemos

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